terça-feira, 19 de outubro de 2010
quinta-feira, 7 de outubro de 2010
GOVERNO PARALELO
Transeuntes
Meio-fio separa uma velha pedinte de correligionários
Da situação
Edificando conglomerados produtivos
Especulam
Na Bolsa dos quilos de cocaína
O morro.
Policiando
A justiça da cobra-cega
O tráfego
De influências...
Políticos
Avaliando o custo-benefício
Piramidal.
A bengala coligada
Guia
A velha democracia...
O peso da carcaça
Sucumbe a sapiência dos povos
Calcanhar-de-aquiles.
JARDIM
Sentado de frente ao horizonte
Vejo dois sóis no poente
O que aquece e ilumina anuncia que a primavera chegou
E o outro como tatuagem põe-se na calcinha de uma bela anca.
Essa paisagem alimentando meu ego
Deixa-me perplexo a descrever o ser tão lindo que nos acompanha
Não somente pela forma, o jeito meigo, o sexo único e definido.
Define o gênero masculino ao nascer
Para depois crescer dentro de seu prazer
Uma performance que nos acompanha até morrer...
Sentado de frente a esse horizonte
Crio uma mandala com as ruas do centro
São os signos das flores semeados para cada um de nós
Uma serpente para ti, enquanto como as maçãs.
E se condenarem novamente nossos atos
Discutindo o sexo dos anjos para te darem a devida culpa
- Hipocrisia, anátema -.
Porque a libido estará também nos teus filhos
Mesmo que a boca insista na recusa.
Sentado de frente ao horizonte
Vejo dois sóis no poente
O que aquece e ilumina anuncia que a primavera chegou
E o outro como tatuagem põe-se na calcinha de uma bela anca.
DIALÉTICA DO COGUMELO
As portas da percepção
Como os lobos
Uivavam perante a lua.
Entre as miúças dos anseios e do estresse
Consubstanciado pelo conteúdo e a forma
Guarda-chuvas levantam horizontes
Na aurora poética das canções...
Blues...
As odes ecoavam de um azul...
Alimentando as labaredas dos fogos e das paixões
Narcisos enfeitiçados voavam como mariposas
Em meio às luzes de corpos celestes
De um luau.
E dos rastros da mente
Emergiam dos caminhos corcéis
Guiados por um grande índio tupi
E dos arvoredos surgiram uirapurus
Na aurora poética das canções...
Blues...
DIÁRIO DO CHE
Vejo agora, com clareza, o capitão bêbado
Bigodudo patrão da embarcação vizinha
Com gestos enriquecidos pelo vinho ruim.
Despedida entusiasmada dos marinheiros
Devotos de Baco.
Conhecemos também outros
Que defendem a sã coletividade humana
E desprezam o parasitismo que via no vagar da maioria das pessoas.
As medidas de repressão não superam os protestos contra a fome inveterada.
E como eles mesmos chamam o “verme comunista”
Nada mais era que um natural desejo de algo melhor.
Veremos se algum dia, algum mineiro pegar uma picareta com prazer e vá envenenar seus pulmões com alegria consciente.
Dizem que lá, de onde vem a chama rubra que deslumbra hoje o mundo, é assim.
É o que dizem. Eu não sei.
http://youtu.be/7beUY6CufA4
ABISSAL
Mergulhando nas lentes de um olhar
Desvaneço abrindo as asas do coração
Degradê como as águas do mar
Cristalizar o que é só tristeza, e o que é só alegria?
Inútil distinguir qual a parte que me pertence.
Desarmado entro no ringue
Sou Cortázar abandonando os socos de boxe
Para agarrar uma caneta e lutar pelo amor e a vida.
Sentir o aflorar do sentido peculiar das universalidades
Dos seres e das coisas simples.
Mas nunca é tarde para descrever o que sinto agora
Uma imensa satisfação de sentar na varanda do mundo
E enxergar a ludibriante aventura humana de estar constantemente querendo...
Sair a deriva na alcoólica noite discutindo sem razão para entender o ideal alheio, ver as mulheres passando os homens que passam, xingar a política daqueles que jogam a bola das futilidades...
Mudando o discurso falarei como um mecenas insinuando que não se deve cuspir nos pratos, plantarei uma árvore mesmo que os meus negócios dependam dela, acordarei sempre às seis da manhã chamando-a de meu bem...
Uma imensa satisfação de sentar na varanda do mundo
Procurando saber qual à parte que me pertence
Cristalizar o que é só tristeza, e que é só alegria?
É a própria vida manifestando em tudo que se move
Como uma folha na dança do vento
Manifestai poesia.