quarta-feira, 29 de julho de 2015

FRAGILIDADE




                Diga o que você pensa
                Mostre o seu sentimento
                E se não sentir a minha presença.
                Eu fico triste
                Mas preciso compreender
                Mesmo que o momento seja
                O mais frágil da minha vida.


                Seu mundo ficou distante do meu
                Seus compromissos deixavam-me só
                Sua presença era cativa.
                Eu fico triste
                Mas preciso compreender
                Mesmo que o momento seja
                O mais frágil da minha vida.


Ando sozinho
                Sinto falta de você não ter a minha solidão.
                Eu fico triste
                Mas preciso compreender
                Mesmo que o momento seja
                O mais frágil da minha vida.

        Os anos passaram depressa
                Nem percebi
                Até que você mostrou
                O tempo que não queria perder.
       







        Eu fico triste
                Mas preciso compreender
                Mesmo que o momento seja
                O mais frágil da minha vida.


Eu choro
                Por que as pessoas choram?
                Por tudo...
                Você diz: Que nada é a idade, frágil idade!
               

Eu fico triste
                Mas preciso compreender
                Mesmo que o momento seja
                O mais frágil da minha vida.


                Suas fotos, lembranças
                Seu olhar, provas de um passado
                Cheio de franquezas
                Vazio de realizações
                E dos sonhos
                Apenas o pesar.

                
O IMPÉRIO DOS “BOBOS”


Vestido para acampar
Com pick-ups cruzando a wall street
Figurantes cabiam pela rede de milhões.


Embalados pelo rock’n roll
Aboliram paternos conceitos...
E o psicodelismo transportado para a contracepção imperial
Recriou o burguês.


A democracia lhe pertence
Com ranços da sistemática mão invisível
Que esmaga o social como uma tribo – singular periférico da aldeia global –
Porém, as comoções surtem efeitos negativos ao intelecto empreendedor,
Que circula como mero cidadão
Despistando o contraditório mundo dos banidos.


Nada contra seus “hábitos de ex-hippie” - novo establishment? –
 Mas o chamado progressista adequar-se ao mundo dos bourbons é inevitável.






Nota: “Bobos”, termo inventado pelo jornalista David Brooks, sintetiza duas palavras e conceitos opostos – “bohemians” ( boêmios) e “bourgeois” (burgueses)- e serve para identificar a nova classe alta norte-americana, que esta assumindo o lugar da antiga aristocracia protestante anglo-saxã.

 

 

 


 

DO DIÁRIO DE CHE



                Vejo agora, com clareza, o capitão bêbado
                Bigodudo patrão da embarcação vizinha
                Com gestos enriquecidos pelo vinho ruim.
               
Despedida entusiasmada dos marinheiros
                Devotos de Baco.

                Conhecemos também outros
                Que defendem a sã coletividade humana
E desprezam o parasitismo que via no vagar da maioria das pessoas.

As medidas de repressão não superam os protestos contra a fome inveterada.
E como eles mesmos chamam o “verme comunista”
Nada mais era que um natural desejo de algo melhor.

Veremos se algum dia, algum mineiro pegar uma picareta com prazer e vá envenenar seus pulmões com alegria consciente.
Dizem que lá, de onde vem a chama rubra que deslumbra hoje o mundo, é assim.
É o que dizem. Eu não sei.




MOSAICO


Reflexos estilhaçam o passado secular
Turvos arco-íris lançados de canhões de luz


Num piscar de olhos volto
Reflexão espasma dá conta que ainda não vi a minha grande barba no meu rosto nu.


Choro de criança
Louca aventura de soldados de chumbo marchando para labaredas
Idéias e paixões...


Carros sem asas zunem na avenida do quinto andar
Mulheres na espreita matam querendo amar
Enquanto nascem rebentos de caixões de gelo
Manchetes anunciam: Eram os deuses crionautas!


No bar do Olimpo
Homens uivando vagueiam
Afirmando que o cavaleiro épico não existe mais...
Levantando as taças brindam...
Superamos a morte! Superamos a Morte! Superamos a morte!
Uma voz descompassada grita:
Venceremos na Vida! Venceremos na Vida! Venceremos na Vida!
Como um banho de água fria a lucidez descompactua
E todos desconversam voltando aos seus antigos lugares...




terça-feira, 21 de julho de 2015

CARTA PARA QUEM ESTÁ PERTO



Quero te roubar um beijo
Toda manhã te fazer sorrir...
Seus olhos me verem ao abrir.


A noite cansar-te de tantos carinhos
Até nesses desejos rabiscados em versos
Uma pseudo carta  para que está perto
Feita de frases curtas de quem se senti longe...
Feita para romper com a esperança os obstáculos que a vida como aranha tece...
Feita pra te dizer que muitas ou poucas palavras não se vinculam unicamente ao mundo dos significados.


O drama de minhas palavras é não saber que rumo meu amor dará
Ao que está perto fugira de desgosto ou que está longe se sentira perto?
Minhas palavras não querem interrogar nossos sentimentos
Elas tentam expressar onde mora meu e o teu coração...

Agora tudo parece distante
Quem está perto, quem está longe

A metafísica desse sentimento confundi o meu querer com o seu sentir

CARTA PARA QUEM ESTÁ PERTO II






Eu que nada tenho
Que quase tudo fiz para ser feliz
Atrapalhado fico em ver que existe ainda pessoas como você...
Isenta de pudor para amar
Eloquente ao dizer que o que se perdi na vida é o medo do não se querer...
Determinada por um usufruto surreal...

É dessa forma que te liberto
Escrevendo sobre os meus limites que acorrentam minha ousadia
Desenhando seu semblante na memória do meu tempo.

Aprendiz é alguém como eu
Que passa pela vida e diz para ela que nunca a conheceu
Cobrando dos outros o que deve a si mesmo
Aprendiz ...

É dessa forma que te liberto
Escrevendo sobre os meus limites que acorrentam minha ousadia
Desenhando seu semblante na memória do meu tempo.



           PRELÚDIO





Caminhar no mundo de tantas posses
O cercado que separa: quem semeia de quem come.


Na véspera de um “novo tempo”
A técnica busca superar: o olhar, o ouvir, o sentir, o falar...


A palavra que ecoa na casa das palavras
Dos homens que anunciam
A arte da revelação contra a maior opressão.


A palavra que ecoa na casa das palavras
Que denuncia a mão que aleja os corpos de quem esculpi.


A palavra que ecoa na casa das palavras
Afirmando que se o verbo veio primeiro então cante para os corações e mentes: Revolução...


A palavra que ecoa na casa das palavras
Sou eu, é você, somos todos nós!
Num prelúdio que derruba muros e abre horizontes
Para criar um mundo melhor.







UNIVERSO PARALELO



Observando o céu de estrelas
Imensidão abstraída no pensamento
Como formigas saqueando torrões de açúcar
De um pão de sonho cosmogonista.

Zeus e seu olímpo de orixás zodiacais
No entender dos homens deus fez o mundo e vigia tudo
Para Zeus os homens são instrumentos das vontades divinas
Jogos de amor e ódio.

Mesmo que insista na pergunta
Mesmo que não aches a resposta:
O mundo é feito de poesia que faz e desfaz

Reticulando a imagem que vês

Vezes enganando o que senti.

O que queres que eu responda?
Que o mundo imundo que vivemos é um aquário de peixes com bocas  que gesticulam sempre o sim;
Que o mundo imundo que vivemos é um teatro de fantoches com sua história já descrita e narrada;
Que o mundo imundo que vivemos é a poeira de um tempo que leva tempestades mas também carrega sóis e chuvas...
Que o mar que habita meu sertão é maior que todos os sertões...
E o que mais desejo é estar numa roda de amigos cantando, bebendo os prazeres da vida, antes que o tempo se esvai...
Antes que meus olhos cansem de olhar quantas estrelas
Que habitam tantos pensamentos e encham meu universo apraz!




quinta-feira, 9 de julho de 2015


ILHA DESERTA

Lançados no mar da vida
Procurando agarrar aquilo que não nos pertence
Conduzido pela corrente da incerteza
Sou Ulisses indo para casa
Desafiando os inventores de Poseidon.


Fiquei contente em avistar uma ilha
Depois percebi que ela também estava à espera de alguém
Deserto do meu oceano
Quem sou eu, quem é você ilha?


Talvez tenha exilado Bocage por dizer o que sentia e pensava
Quem sabe Papilon, fugindo na busca de liberdade
Até mesmo Napoleão, querendo retomar de assalto seu império
Quantos homens, quantas ilhas!


Queria a coragem de Espartacus
Encontrar em cada ilhota um escravo e levar ao continente uma avalanche de soldados.
Queria a coragem dos revolucionários de Serra Maestra
Destruir desertos e plantar sementes...
 [Não venha regar com areia o que você nunca tentou cultivar.Tenha a mesma determinação dos lavradores que semeiam a terra, porque o fruto provera].
Minha sede é a tua procura

Navio cruzando desertos...
O POETA E A LUA

Pelo brilho de seu olhar
Um imã arrastou-me a ti
A multidão inexpressiva ficará só
Por nossa companhia se fazer presente.

Como um poeta enfeitiçado pela lua
Cometi o erro dos mortais
Querer saber demais de sua existência
No dia de teu eclipse...

Fomos para um olimpo
Em nosso leito porções de vinho
Servidas como alimento mediara os limites...
Quantas fases existem entre o homem e a mulher perguntava o poeta a lua
Que inferno astral faz o amor tornar-se dúvida?

De repente no céu estrelado o eclipse se fez
A lua alinhada com a terra e o sol pareciam copular
Tua boca pedia algo que teu corpo exigia
E o poeta amando buscava decifrar poeticamente
Que som tem o prazer, oh lua?
Numa mulher prestes a revelar seus íntimos segredos...
   
Que tom tem o prazer, oh lua?

Numa mulher prestes a revelar seus íntimos segredos...
VIOLÕES


O tom de carícias esvai na sucessiva cadência
Do querer violar.

Teu corpo encostado em meu peito
Mãos rítmicas
 E das suas entranhas as mais belas vibrações...
Melodias, dissonâncias, cantigas para amar.

Quero ser um Luthier
No pretensioso “design” de suas paixões
Um lunático enfeitiçando o ambiente
Fazendo a corte como os bichos
No entardecer descrito naquela canção que fiz para nós dois.

Ah que saudade, ah que esperança, euforia, tu me trazes.

Em cada casa guardas um segredo
Cada batida um coração
  Escalando, escalando, escalando...

A nobreza do teu corpo
Na mata virgem de outrora
Paraíso dos jacarandás
Ressoa...

Quero ser um Luthier
No pretensioso “design” de suas paixões
Um lunático enfeitiçando o ambiente
Fazendo a corte como os bichos
No entardecer descrito naquela canção que fiz para nós dois...