domingo, 31 de maio de 2009

UNIVERSO PARALELO

Observando o céu de estrelas
Imensidão abstraída no pensamento
Como formigas saqueando torrões de açúcar
De um pão de sonho cosmogonista.

Zeus e seu olímpo de orixás zodiacais
No entender dos homens deus fez o mundo e vigia tudo
Para Zeus os homens são instrumentos das vontades divinas
Jogos de amor e ódio.

Mesmo que insista na pergunta
Mesmo que não aches a resposta:
O mundo é feito de poesia que faz e desfaz
Reticulando a imagem que vês
Vezes enganando o que senti.

O que queres que eu responda?
Que o mundo imundo que vivemos é um aquário de peixes com bocas que gesticulam sempre o sim;
Que o mundo imundo que vivemos é um teatro de fantoches com sua história já descrita e narrada;
Que o mundo imundo que vivemos é a poeira de um tempo que leva tempestades mas também carrega sóis e chuvas...
Que o mar que habita meu sertão é maior que todos os sertões...
E o que mais desejo é estar numa roda de amigos cantando, bebendo os prazeres da vida, antes que o tempo se esvai...
Antes que meus olhos cansem de olhar quantas estrelas
Que habitam tantos pensamentos e encham meu universo apraz!

SONETO DO OLHAR

Quando era éter, poeira ou carvão
Vagando em meio, espaço e tempo
Nebulosas naves ao mar...
Giram estrela-mariposas.


Percebi, o macro se “fez” micro
Planeta azul, mar de reflexos...
És Narciso em espelho d’água
Perplexo, perdeu-se no ser.


Da via Láctea a via estética...
Homens criam arte, Narciso
És feio? Belo? Até se matar!


Da via Láctea a via estética...
Unindo e separando todos
Narcisos carentes de amar!

DIÁRIO DO CHE

Vejo agora, com clareza, o capitão bêbado
Bigodudo patrão da embarcação vizinha
Com gestos enriquecidos pelo vinho ruim.

Despedida entusiasmada dos marinheiros
Devotos de Baco.

Conhecemos também outros
Que defendem a sã coletividade humana
E desprezam o parasitismo que via no vagar da maioria das pessoas.

As medidas de repressão não superam os protestos contra a fome inveterada.
E como eles mesmos chamam o “verme comunista”
Nada mais era que um natural desejo de algo melhor.

Veremos se algum dia, algum mineiro pegar uma picareta com prazer e vá envenenar seus pulmões com alegria consciente.
Dizem que lá, de onde vem a chama rubra que deslumbra hoje o mundo, é assim.
É o que dizem. Eu não sei.

DIALÉTICA DO COGUMELO

As portas da percepção
Como os lobos
Uivavam perante a lua.
Entre as miúças dos anseios e do estresse
Consubstanciado pelo conteúdo e a forma
Guarda-chuvas levantam horizontes
Na aurora poética das canções...
Blues...

As odes ecoavam de um azul...
Alimentando as labaredas dos fogos e das paixões
Narcisos enfeitiçados voavam como mariposas
Em meio às luzes de corpos celestes
De um luau.

E dos rastros da mente
Emergiam dos caminhos corcéis
Guiados por um grande índio tupi
E dos arvoredos surgiram uirapurus
Na aurora poética das canções...
Blues...

DA JANELA PARA O MUNDO

Abri a janela
Vi o mundo
Não me enxerguei.

Tentei com os olhos
Mesclar o azul
Avancei no céu, anoiteceu.
Viajei entre as estrelas, viajei...

“O vazio é tão completo”
No vazio não há fronteiras, fui além...

O impossível existe?
Fechei os olhos
Mesclei o preto,
[ sonhei ].

Encontrei um homem.
Escrevia?
Desenhava?
Perguntei quem era?
O que fazia? Disse-me: Você.

A PENÚLTIMA REVOLUÇÃO

Quando ouço certas canções
Pedaços de sentimentos...
Temores, desejos, lutas e glorias!
Não cabe em meu pensamento
Não cabe em meu sentimento
Não cabe essa incessante vontade de prosseguir...
Não cabe aceitar a efemeridade dos extremos da riqueza e pobreza
Não cabe...


Vamos!
Peguemos as armas...
Vamos!
Lutemos até a morte da alienação.
“Quem anda com luz própria, nada pode apagar...”


Não temos mais nada a perder
Ou nosso propósito alimentara as nossas vidas
Ou a predestinação do sistema guiara todos ao caos.
Não a justiça para quem esta morto.

Vamos!
Peguemos as armas...
Vamos!
Lutemos até a morte da alienação.
“Quem anda com luz própria, nada pode apagar...”

Nossos filhos agora terão o que fazer...
Façamos o movimento
Façamos a Revolução
Que a Consciência fará o resto...

BEIJO

A boca murmura
La boca murmura
A falácia do seu beijo
La falacia de su beso
Escondendo-se entre o céu e a língua frenesi...
Escondiéndose entre el cielo y la lengua frenesí...
[ o desejo ].
[el deseo].
Olhares ávidos
Miradas ávidas
Tornaram-se notados
Se vuelven notadas
Que o desvario presente ao nosso redor
Que el desvarío presente a nuestro alrededor
Calou-se em prontidão.
Se calló en prontitud.

O sonho desta noite
El sueño de esta noche
Brindou como dois cálices...
Brindo como dos cálices
O vinho dos lábios
El vino de los labios
Com a cálida sede...
Com la cálida sed...

Da boca que procura
De la boca que procura
A falácia do seu beijo
La falacia de su beso
Escondendo-se entre o céu e a língua frenesi...
Escondiéndose entre el cielo y la lengua frenesí...
[ o desejo ]
[el deseo]

KATHARSIS*

Garimpando palavras para falar deste momento.

Catarse liberadora
Despertem os homens das correntes da ignorância.
Muito há que se fazer...A dúvida é por onde começar!
Vamos primeiro tratar dos sentimentos, do amor tão esquecido nas violadas relações humanas.Queres fazer revolução, comece por si mesmo!

Não critique o trabalho alheio utilizando-se da preguiça; Não defenda a autonomia entoando autoritarismo; e quando falar sobre “sui generis” não utilize a moral ou não fale... seja laico; sobre as riquezas concentrasse na igualdade e compartilhe essa consciência.
Mas se recusam tal partilha...Faça para ti a revolução de todos:
Eliminemos a usura e o culto ao consumo famigerado; censure a banalização da cultura e da arte proletária; defenda o progresso que respeite as ações compatibilizadoras da ciência, homem e meio-ambiente.

Liberte os homens das correntes da ignorância.
A educação é a fortaleza
E a consciência seu ultimato.



*Catarse é a metáfora usada por Aristóteles ( “poética”) para combater a condenação de Platão à arte, especialmente à tragédia, por estimular paixões mórbidas que serviriam mal à humanidade. Na tragédia grega, o herói julga sua consciência culpada, com freqüência devido ao assassinato de um parente. Através da piedade pelo herói, argumenta Aristóteles, o espectador libera-se de seus conflitos psicológicos, de culpas, devido à “autorização” para se emocionar que a ação concreta contida na tragédia concede. E, com isso, revivendo e revisando suas próprias experiências penosas, atinge o espectador um estado de harmonia psicológica e de lucidez realista. Na tradição popular, a cartase liberadora, a purgação de erros pretéritos é alcançada com a revisitação do passado. Trecho do texto de Rogério Cezar de C. Leite/Folha S.P

sábado, 23 de maio de 2009

EXÍLIO

Perceba nossa ausência
Diante da igualdade ditada por aqueles que se denominam vencedores
Preconizando a tua corte, teu controle.
"Acostuma-te à lama que te espera"
Habitua-se a viver nesta selva e ser também fera.

E se lhe causar constrangimento, alguma dor
Fecham-se portas
Calam tua boca e perpetua:
Ser um soldado predestinado a servir,
Um operário qualquer acaso tiver emprego,
Caso tiver dinheiro para comprar um pedaço de pão ao filho que rouba ou pede.

E desta vez abriram-se as portas do medo,
Celas frias e cheias de desterro...
De homens com a máscara da exclusão
Tudo em defesa do direito-Estado-violação.

E se lhe causar constrangimento, alguma dor...
Fecham-se portas
Cala-te a boca e perpetua:
A educação para que continues ignorante;
A religião que conduz a fé conformadora;
O dinheiro que produz a força...

Se duvidas conte 150 milhões de vidas
Do poema de Maiakóvski
Se dúvida enxergue os mesmos milhões de expatriados num país do hemisfério sul.

Os números apenas sentenciam
Os enumerados sofrem...

CALEIDOSCÓPIO

Vejo as luzes que alimentam a imaginação e queima a retina
Dos olhos o mundo que tu achas tão grande com sua pequenez
Que não se deu conta de tantos sentimentos guardados aquela pessoa, ladrão de lençóis.

A dança dos acontecimentos conspirou
Para que o problema financeiro fez flertar
Não mais com o prisma ilusório do amor, mas o prazer das paixões...

As ondas sonoras dão cambiantes impressões
Quando tomamos café da manhã misturado com a ressaca dos exageros da noite passada.
Leituras sobre Franz Kafka, leituras sobre a ótica dos aborígenes que cultivam os laços sem o germe bárbaro dos góticos.

Passei quinze anos pensando como eliminar esse voyeur
Mas sua silhueta visitava todas as noites meus sonhos de adolescente e acordava com as vestes molhadas pelo choque dos átomos provocados pela energia platônica.

Serei injusto contigo por não concordar com teu silêncio
Depois de tanto tempo ver tuas pupilas terem aquela réstia de cor e brilho que somente os amantes conseguem mostrar.

Às vezes sinto-me como os personagens do filme:"Não amarás".

quarta-feira, 20 de maio de 2009

PROCISSÃO

De hoje em diante
Não trairei mais as leis e ordens cidadãs
Não encherei a cara de cachaça
Embriagando os ambientes de dizeres obcenos.

Ficarei sereno
Com a sensatez dos tolos
Porque você merece estar tranquilo aceitando o destino traçado por deus.

Estarás incólume como uma barata num cubículo escuro
A espera do próximo cortejo que o levara direto para o céu...
Sete palmos abaixo da terra.