sábado, 30 de maio de 2020


MANIFESTO


O que dizer neste momento de total putrefação
A resistência parece estagnada ao sentir a opressão vestida com adereços tecnológicos da mesma ilusão...
Perdeu-se  o compromisso com a consciência de classe os trabalhadores?
Seus idealizadores não ressoam mais o Manifesto em nome dos explorados?
O que fizemos e deixamos de fazer como militantes das bandeiras da libertação?

Não pense que o mundo tornou-se mais humano e o capitalismo sociável.
Não pense que temos que inventar outras ideologias para que os trabalhadores rompam com os grilhões que acorrentam sua sede por justiça...
Tudo está lá como sempre esteve: o sistema bárbaro e carcomido pelo câncer capitalista devorando todo o organismo composto do micro e macrocosmo planetário; A pobreza sustentando o reino consumista da abundância; A miséria da filosofia em nome da benevolência dos hipócritas;

Revolucionar, a priori é tomar consciência de sua realidade...
Revolucionar é buscar romper com a alienação que se alia com às formas mais grotesca da convivência humana.
Revolucionar é tentar mudar nossas vidas e a dos outros sem esperar as vantagens que isso lhe proporcionara...
Revolucionar é a perspectiva de um mundo e uma nova ordem que propicie um equilíbrio entre homem e natureza...
Revolucionar e tomar o açoite do opressor e fazer justiça em prol da igualdade de direitos.
Revolucionar é acabar com o atual sistema econômico global que visa à opressão, a exploração dos homens e dos recursos naturais e a especulação e o domínio das riquezas...
Revolucionar é cultivar a cultura do afeto, da poesia que está nas artes humanas e na  utilização consciente da ciência e da tecnologia em prol da preservação de todos os seres vivos...
Revolucionar é respeitar até as limitações que a própria natureza humana enfrenta ponderando a escolha daquilo que podemos ou não acreditar para não cria falsas ilusões sobre o que permeia a morte e os mistérios do universo.
Revolucionar é acordar ou dormir a hora que for almejando a convivência sadia com o próximo...
Revolucionar é a incessante buscar da liberdade sabendo que jamais seremos felizes se aqueles que convivem com você não compartilham desse mesmo sentir...
Revolucionar é o Ser, o Sentir sem a maestria do Ter...
Revolucionar é o Ter, não como atributo da posse, mas no sentido do fazer que a própria revolução constante realiza no entendimento que o novo sempre vem...  

No Nos Moveran







 ILHA DESERTA




Lançados ao mar da vida
Procurando agarrar aquilo que não nos pertence
Conduzido pela corrente da incerteza
Sou Ulisses indo para casa
Desafiando os inventores de Poseidon.


Fiquei contente em avistar uma ilha
Depois percebi que ela também estava à espera de alguém
Deserto do meu oceano
Quem sou eu, quem é você ilha?


Talvez tenha exilado Bocage por dizer o que sentia e pensava
Quem sabe Papillon, fugindo na busca de liberdade
Até mesmo Napoleão, querendo retomar de assalto seu império
Quantos homens, quantas ilhas!


Queria a coragem de Espartacus
Encontrar em cada ilhota um escravo e levar ao continente uma avalanche de soldados.
Queria a coragem dos revolucionários de Serra Maestra
Destruir desertos e plantar sementes...
 [Não venha regar com areia o que você nunca tentou cultivar.Tenha a mesma determinação dos lavradores que semeiam a terra, porque o fruto provera].
Minha sede é a tua procura
Navio cruzando desertos...



                   PRELÚDIO





Caminhar no mundo de tantas posses
O cercado que separa: quem semeia de quem come.


Na véspera de um “novo tempo”
A técnica busca superar: o olhar, o ouvir, o sentir, o falar...


A palavra que ecoa na casa das palavras
Dos homens que anunciam
A arte da revelação contra a maior opressão.


A palavra que ecoa na casa das palavras
Que denuncia a mão que aleja os corpos de quem esculpi.


A palavra que ecoa na casa das palavras
Afirmando que se o verbo veio primeiro então cante para os corações e mentes: Revolução...


A palavra que ecoa na casa das palavras
Sou eu, é você, somos todos nós!
Num prelúdio que derruba muros e abre horizontes
Para criar um mundo melhor.





Tu, palavra desmedida inventada pelo meu povo.
Explicação do que sinto
É distrair-se desse sentimento que corta como navalha a carne.

Esta calma estranha
Como a espera de um furacão
A ponte que liga a paixão a um amor anônimo,
A ponte criada para unir o que está separado.

No trote tu me sacode
Mas antes ludibria com  galope compassado
Pisando no gramado da pele que acariciava com o coito.
Como vício me flagela fazendo querer mais este ódio que assola
Depois fissura minhas portas e janelas escancaradas pelo desejo.

Saudações de um anfitrião pedindo esmola
Morrendo de fome provocada pela ausência de tua presença.
Kamikaze, irei ao teu encontro
Querendo matar, querendo morrer
Se tu esquecer algum dia de me visitar,

                                                                  SAUDADE.

       



Com o relógio à vista
Corre feito louco
Atropelando camelôs e bugingangas
Correm entre os carros, prédios, lotações, corre...
Pra pagar as contas, pra poder comer, vestir o filho, pra esquecer Maria que cobra todo dia um pouco de atenção para o seu tesão...
Sem perceber que sua vida parada como pedra no caminho a espera de algum tropeço o desperte.
Xingando ter culpa os pais dos filhos da puta do atraso de sua partida
Zé quer ter promoção ao chegar no trabalho onde o patrão de sentinela e com relógio a prazo te dará o troco.

Zés destes tempos
Não sente que já é tempo
Tempo de viver enquanto a vida escorre pelos dedos
Decodificando seu submundo.

Tempo senhor das Eras
Tempo senhor dos tempos
Homem escravo do tempo
Homem escravo do homem

Escravo
do

ESCRAVO.

domingo, 24 de maio de 2020


VIA DUPLA


Essas primeiras décadas desse novo século a política do Brasil chegou ao seu limiar - apocalypse now .
Seus medíocres representantes alimentam crises, eliminaram ideologias, sucumbiram a chamada Esquerda com atos de Direita, deram voz falaciosa a histórica setores conservadores   para falarem em nome dos desfavorecidos e os seguimentos do  movimento operário foram engessadas em meio a tal caos e absurdos...

Esse sentimento semelhante a conduzir um veículo desgovernado ou sem freios em alta velocidade em nebulosa estrada volta à tona:

- Pelo retrovisor observamos que tudo que lutamos e passamos pode se perder... Os vermes do absurdo estão na nossa rabeira, por um assalto querem conduzir de novo o veículo com discórdia ou ditadura;

- A frente uma estrada cheia de descasos e injustiças que somente podemos vencer passando por cima, extirpando o mal pela raiz, caso contrário seremos atropelados pelo desmando e a miséria da política capitalista;

- Do lado da Esquerda em meio a essa guerra sem nenhuma ideologia que o apoie, sem nenhum propósito igualitário os trabalhadores sedentos estão como postes, estáticos no temporal;

- Do lado da Direita, as hienas exploradoras retomam seus trabalhos arquitetando e inovando seus famigerados golpes para dominar o corpo social... 

- E acima de nós apenas o céu...

CALEIDOSCÓPIO



         Vejo as luzes que alimentam a imaginação e queima a retina
         Dos olhos o mundo que tu achas tão grande com sua pequenez
Que não se deu conta de tantos sentimentos guardados aquela pessoa Ladrão de lençóis.  
        
A dança dos acontecimentos conspirou
Para que o problema financeiro fez flertar
Não mais com o prisma ilusório do amor, mas o prazer das paixões...

As ondas sonoras dão cambiantes impressões
Quando tomamos café da manhã misturada com a ressaca dos exageros da noite passada.
Leituras sobre Franz Kafka, leituras sobre a ótica dos aborígines que cultivam os laços sem o germe bárbaro dos góticos.

Passei quinze anos pensando como eliminar esse voyeur
Mas sua silhueta visitava todas as noites meus sonhos de adolescente e acordava com as vestes molhadas pelo choque dos átomos provocados pela energia platônica.

Serei injusto contigo por não concordar com teu silêncio
Depois de tanto tempo ver tuas pupilas terem aquela réstia de cor e brilho que somente os amantes conseguem mostrar.

Às vezes sinto-me como os personagens de "Não Amarás". 



DA JANELA PARA O MUNDO



                            Abri a janela
                            Vi o mundo
                            Não me enxerguei.

                            Tentei com os olhos
                            Mesclar o azul
                            Avancei no céu, anoiteceu.
                            Viajei entre as estrelas, viajei...

                            “O vazio é tão completo”
                            No vazio não há fronteiras, fui além...      

                            O impossível existe?
                            Fechei os olhos
                            Mesclei o preto,
                                                        [ sonhei ].


                            Encontrei um homem.

                           


Escrevia?
                                      Desenhava?
                                               Perguntei quem era?
                                                                  O que fazia?
                                                                           Disse-me: Você.                                                                


segunda-feira, 11 de maio de 2020





CAPUCHETA





No céu uma dança no vento guiada pelo carretel de mãos pequeninas
Uma constelação de cometas multicolores...
Plainando e rasgando o ventre do azul celeste...

De repente uma guerra deflagra
Pipas, papagaios, peixinhos, capuchetas são arsenais
Do Zigue-zague, desbicadas, enlaçadas e cortes magistrais 
Onde se ganha ou fracassa...
Ninguém morre...
E quem perde a batalha pode voltar vigoroso!

Gandulas à espreita
Um arrastão de moleques atropelam pedestres, automóveis, muros e caes ferozes em seus quintais
Dona Maria grita por ir ao chão as roupas de seus varais...
Seu Ricardo xinga com a bengala em punho...

A volta às aulas faz cessar a euforia
Que voltara nas próximas férias com a mesma alegria...

Tudo isso faz parte de um passado que revivo na infância de outros...
Isso talvez não importe na cabeça desses acrobatas e kamikazes mirins

Afinal o tempo e o vento conduz tudo e todos...





quarta-feira, 6 de maio de 2020


MOSAICO


Reflexos estilhaçam o passado secular
Turvos arco-íris lançados de canhões de luz


Num piscar de olhos volto
Reflexão espasma dá conta que ainda não vi a minha grande barba no meu rosto nu.


Choro de criança
Louca aventura de soldados de chumbo marchando para labaredas
Idéias e paixões...


Carros sem asas zunem na avenida do quinto andar
Mulheres na espreita matam querendo amar
Enquanto nascem rebentos de caixões de gelo
Manchetes anunciam: Eram os deuses crionautas!


No bar do Olimpo
Homens uivando vagueiam
Afirmando que o cavaleiro épico não existe mais...
Levantando as taças brindam...
Superamos a morte! Superamos a Morte! Superamos a morte!
Uma voz descompassada grita:
Venceremos na Vida! Venceremos na Vida! Venceremos na Vida!
Como um banho de água fria a lucidez descompactua
E todos desconversam voltando aos seus antigos lugares...




NARGUILÉ





A fumaça como pensamento se esvai/Flutuando como balões/Procurando, procurando não sei o que...

Rente aos meus pés/Pequenos seres rastejantes/Sobre a cabeça aves velozes mergulham nos ares disputando seus inimagináveis motivos para viver.

Um horizonte instiga trilhas de rios ao único destino/E as nuvens carregadas de vapores embevecidas dançam...

Como se estivesse no oriente/Numa tenda mulheres mostrando seus ventres aos sons de cítaras.
Como se estivesse nos Andes/Uma grande fogueira com muitos dançarinos ritmados por flautas de pã.
A fumaça como pensamento se esvai/Flutuando como balões/Procurando, procurando não sei o que...



SOBRE TODAS AS COISAS



               Muitas coisas acontecendo
               E eu aqui lendo um jornal que é de ontem...
               “Um piloto rouba um Mig, gelo em Marte”, super-homens
               Dizia o velho ator, o poeta, o louco cantor:
               - Que o centro do mundo é simplesmente, a gente.    
              


               Muitas coisas acontecendo
               E eu aqui lendo o Pessoa
               A decifrar alguns mutantes na televisão
               Por onde você andou...
               Faz tempo que não te vejo.


               O dedo em vê, aquela utopia: O que é a arte e a magia?
Que não existe amor de barriga vazia, será o sexo uma androgenia?
E a loucura contida em nós, tem uma dose de rebeldia
Um gozo a meia-noite, um beijo de despedida,
Mas uma bala quebrando os sonhos de um trabalhador,
Que há muito... procura trabalho
Mas nada adiantou.

              O dedo em vê, aquela utopia: O que é a arte e a magia?   

MESA DE BAR



                   Fazia tempos que a solidão
                   Apossara em nós como pergaminhos
                   E a vida sem objeção
                   Procurava apenas um amigo perdido.


                   Lembro-me...


                   Quantas vezes nos declaramos
                   Tirando do finito da consciência
                   Os verdadeiros amargos do nosso ser
                   E ao falar-lhe dos meus problemas
                   Fita-me imóvel a captar...
                   Como se fosse transpassado a ti.
                   E ao secar-se o copo, pedia:
                   Mais um chope!
                   Como se fosse o único consolo.
                  

                   Ao despedir-se cambaleando
                   Observei que levava
                   Tristemente meus problemas
                   Não se importando aparentemente com os seus...
                   Onde andará ó meu grande amigo?

                      

 
 



ABISSAL

 

 

Mergulhando nas lentes de um olhar
Desvaneço abrindo as asas do coração
Degradê como as águas do mar
Cristalizar o que é só tristeza, e o que é só alegria?
Inútil distinguir qual a parte que me pertence.


Desarmado entro no ringue
Sou Cortázar abandonando os socos de boxe
Para agarrar uma caneta e lutar pelo amor e a vida.
Sentir o aflorar do sentido peculiar das universalidades
Dos seres e das coisas simples.


Mas nunca é tarde para descrever o que sinto agora
Uma imensa satisfação de sentar na varanda do mundo
E enxergar a ludibriante aventura humana de estar constantemente querendo...
Sair a deriva na alcoólica noite discutindo sem razão para entender o ideal alheio, ver as mulheres passando os homens que passam, xingar a política daqueles que jogam a bola das futilidades...
Mudando o discurso falarei como um mecenas insinuando que não se deve cuspir nos pratos, plantarei uma árvore mesmo que os meus negócios dependam dela, acordarei sempre às seis da manhã chamando-a de meu bem...


Uma imensa satisfação de sentar na varanda do mundo
Procurando saber qual à parte que me pertence
Cristalizar o que é só tristeza, e que é só alegria?
É a própria vida manifestando em tudo que se move
Como uma folha na dança do vento
Manifestai poesia.