quarta-feira, 12 de novembro de 2014

QUILOMBOS



O sabo enganador
Ou rei Obá
Em troca de adornos civilizados
Arrancavam homens de seus lares
Para terras desconhecidas
Onde os hospedantes apagavam
Com açoites seus costumes, crenças e vidas
Apenas para lucrar.


Um dia eles acordaram
Fazendo um novo império também
Com sacrifícios e lutas gloriosas
Mostrando serem capazes aquém.


Passaram-se dias, anos, décadas
Negros, Zumbi, Ganga Zumba gloriosos
Brancos em cortes avergonhados.
Até o rei pediu compaixão
Pois sua riqueza
Fugira de suas próprias mãos.


Mas Zumbi em apogeu
Não quis negociação
Pois com sabedoria
Previa que seu povo
Somente tinha valia com a escravidão.

Como tantos, um carrasco
Ofereceu-se para destruir o “reino dos macacos”
Fazendo-se após o trato
Adquirir a riqueza e seu sonho abstrato
Dele tanto desejado.


O paraíso acabou
O inferno recomeçara
Findando os sonhos tão amados
Em sangue e mortes.


O exército da injustiça vencera Palmares
Mas a liberdade “ganhada”
Que a história ofusca cedera.
Fez como todas pegadas, marcas...
Como herança
O preconceito sobrevive
Por quê? Não sabemos.
Talvez o tempo conscientize os homens
E um dia seremos iguais de verdade.


quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Com o relógio à vista
Corre feito louco
Atropelando camelôs e bugingangas
Correm entre os carros, prédios, lotações, corre...
Pra pagar as contas, pra poder comer, vestir o filho, pra esquecer Maria que cobra todo dia um pouco de atenção para o seu tesão...
Sem perceber que sua vida parada como pedra no caminho a espera de algum tropeço o desperte.
Xingando ter culpa os pais dos filhos da puta do atraso de sua partida
Zé quer ter promoção ao chegar no trabalho onde o patrão de sentinela e com relógio a prazo te dará o troco.

Zés destes tempos
Não sente que já é tempo
Tempo de viver enquanto a vida escorre pelos dedos
Decodificando seu submundo.

Tempo senhor das Eras
Tempo senhor dos tempos
Homem escravo do tempo
Homem escravo do homem

Escravo
do

ESCRAVO.




EXÍLIO


                   Perceba nossa ausência
Diante da igualdade ditada por aqueles que se denominam vencedores.
                   Preconizando a tua corte, o teu controle.
                   “Acostuma-te à lama que te espera”
                   Habitua-se a viver nesta selva e ser também fera.

                   E se lhe causar constrangimento, alguma dor
                   Fecham-se portas
                   Calam tua boca e perpetua:            
                    Ser um soldado predestinado a servir,
Um operário qualquer acaso tiver emprego,
Caso tiver dinheiro para comprar um pedaço de pão ao filho que rouba ou pede.

                   E desta vez abriram-se as portas do medo,
                   Celas frias e cheias de desterro...
                   De homens com a máscara da exclusão
                   Tudo em defesa do direito-Estado-violação.

                   E se lhe causar constrangimento, alguma dor...
                   Fecham-se portas
                   Cala-te a boca e perpetua:
                            A Educação para que continues ignorante.
                                      A religião que conduz a fé conformadora
                                      O dinheiro que produz a força...

                   Se duvidas conte 150 milhões de vidas
                   Do poema de Maiakóvski.
Se dúvida enxergue os mesmos milhões de expatriados num país do hemisfério sul.
                  
Os números apenas sentenciam,
Os enumerados sofrem.