domingo, 27 de dezembro de 2020

 

No princípio

Éter era o meu viver

 

Por encanto

Um milagre, a molécula surgiu

A água fez-se fonte

E de tantas milhares de correntes meu a’Mar aconteceu...

Desde então sou um Cais

Criado para receber o que vem e vai de ti...

 

Tempestades querem tudo mudar

Acabar tudo que meu sentir construiu...

Mar o que faço agora sem você...

Cais o que somos nós sem a’Mar...

 

Vezes desisto

Fico tentando apagar tudo como um deus arrependido

Mas o Mar que existe nesse mundo que fiz insiste em ficar...

E esse meu Cais em prosseguir...

 

Mesmo que tormentas me inudem...

Mesmo que maresia me console...

 

Mar o que seria desse teu Cais sem você?

Cais o que seria de você sem a’Mar?

 

Isso já se fez parte de nossas vidas...

Porque somos parte do mesmo

 

                                                         Oceano.

terça-feira, 22 de dezembro de 2020

 

MEDITAÇÃO

 

 

Eis me aqui...

Calado, por não querer ouvir minha voz...

Exilado de tua presença...

A espera de uma anistia de tantos delitos...

Cometidos pelo imperioso sentido

De querer-te perto!

 

 

 

Devoto ímpio de tua adoração

Do culto de teu corpo êxtase

Clamando cada vez mais pela dor anorgásmica

Clamando nenhum perdão!

 

 

 

Eis me aqui...

Calado, por não querer ouvir minha voz...

Exilado de tua presença...

A espera de uma anistia de tantos delitos...

Cometidos pelo imperioso sentido

De querer-te perto!

domingo, 6 de dezembro de 2020

 

CAPUCHETA


 

No céu uma dança no vento guiada pelo carretel de mãos pequeninas

Uma constelação de cometas multicolores...

Plainando e rasgando o ventre do azul celeste...

 

De repente uma guerra deflagra

Pipas, papagaios, peixinhos, capuchetas são arsenais

Do Zigue-zague, desbicadas, enlaçadas e cortes magistrais 

Onde se ganha ou fracassa...

Ninguém morre...

E quem perde a batalha pode voltar vigoroso!

 

Gandulas à espreita

Um arrastão de moleques atropelam pedestres, automóveis, muros e caes ferozes em seus quintais

Dona Maria grita por ir ao chão as roupas de seus varais...

Seu Ricardo xinga com a bengala em punho...

 

A volta às aulas faz cessar a euforia

Que voltara nas próximas férias com a mesma alegria...

 

Tudo isso faz parte de um passado que revivo na infância de outros...

Isso talvez não importe na cabeça desses acrobatas e kamikazes mirins

 

Afinal o tempo e o vento conduz tudo e todos...

 


 

A MEMÓRIA DOS SENTIDOS

 

 

 

Esqueça, que não te esquecerei...

Esse sempre foi o meu grandioso defeito

Pensar e sentir muito..

Em um piscar vem da memória

E dos sentidos o colapso...

 

 

Vem desperta de meu sono e me deixa nesse pesadelo

Como gostar sem poder querer...

Vem sentimento, varre e deixa apenas as palavras como consolo...

Vai pensamento, varre e deixa apenas as palavras como consolo...

Não esqueça, que não te esquecerei...

Que a intensidade não é arrependimento

 

Que meu desejo é vidraça que o pensar joga pedras...

 

 

 



ASTROLÁBIO


 

Como posso estar?

Se o meu pensar vive preso a ti...

 

E meu Falo em riste

Procura desorientado seu pólo...

Minha bússola...

 

Lá na casa do sonho, na casa do riso

A vida ficcional determina quem é quem.

 

Lá na casa do sonho, na casa do riso

Ninguém é deveras feliz, tão pouco triste...

Viver o momento é presente, é a melhor tradução do que é  real...

 

Lá, coloco minha mais bela roupa a tua espera afrodite. Porque tu vestida para amar quer o entusiasmo dos mortais sem as artimanhas dos cultuadores da insana moral.

 

Nesta casa repleta de portas para entrar e nenhuma para sair

Vou contando o dia que vira proclamar que tudo não passou de indagações criadas pela simples capacidade de pensar...

Loucura; dirão a te encontrar declamando este poema bizarro!

Demente; chamaram os médicos que mentem diagnosticar o que eles também sentem!

Inspirador é o arquiteto construtor de casas cheias de devaneios e palavras...

Seu arrimo tem rimas?

Suas colunas são concretas?

Seu teto abissal, tão distante como saturno e tão intenso como o sistema neural...

 

Lá na casa do sonho, na casa do riso

Cidades e mais cidades são iluminadas por sua usina de vagalumes

Eu não nomeio aquele que está em todos, mas outros chamarão de louco, outros de poeta.

 

 

 

PROCISSÃO

 

 

 

 

 

 

De hoje em diante...

Não trairei mais as leis e ordens cidadãs

Não encherei a cara de cachaça

Embriagando os ambientes de dizeres obscenos.

 

 

 

Ficarei sereno

 Com a sensatez dos tolos

Porque você merece estar tranqüilo aceitando o destino traçado por deus.

 

 

 

Estarás incólume como uma barata num cubículo escuro

A espera do próximo cortejo que o levara direto para o céu...

Sete palmos abaixo da terra.

 

segunda-feira, 23 de novembro de 2020

 

SEGUNDO SOL


 

Não quero ver...

Reflexos do remorso nos seus olhos

Depois de todo esse tempo

Que demos voltas em torno do sol...

E o meu sentir continua em sua órbita...

 

Meu mundo não tem mais a dança da lua

Meu sol da meia-noite perdesse para algum dia!

 

Quando não se tem culpa e os motivos justificam as decisões

Quando as palavras virão correntezas

Valores inundam sentimentos

Nosso universo fica vazio...

 

Meu mundo não tem mais a dança da lua

Meu sol da meia-noite perdesse para algum dia!

 

Não quero ver...

Reflexos do remorso nos seus olhos

Depois de todo esse tempo

Que demos voltas em torno do sol...

E o meu sentir continua em sua órbita...

domingo, 15 de novembro de 2020

 MÊS DA CONSCIÊNCIA NEGRA:

LUTA , RESISTÊNCIA EM UM BRASIL FASCISTA 





Com o relógio à vista

Corre feito louco

Atropelando camelôs e bugingangas

Correm entre os carros, prédios, lotações, corre...

Pra pagar as contas, pra poder comer, vestir o filho, pra esquecer Maria que cobra todo dia um pouco de atenção para o seu tesão...

Sem perceber que sua vida parada como pedra no caminho a espera de algum tropeço o desperte.

Xingando ter culpa os pais dos filhos da puta do atraso de sua partida

Zé quer ter promoção ao chegar no trabalho onde o patrão de sentinela e com relógio a prazo te dará o troco.

 

Zés destes tempos

Não sente que já é tempo

Tempo de viver enquanto a vida escorre pelos dedos

Decodificando seu submundo.

 

Tempo senhor das Eras

Tempo senhor dos tempos

Homem escravo do tempo

Homem escravo do homem

 

Escravo

do

 

ESCRAVO.

 

 

MENINA DOS OLHOS

 

Por onde ando

Você é meu guia

Plainando, atravesso multidões para te ver de perto

E quando deparo contigo

Cara a cara

Teu brilho é como água do mar...

 

 

Um dedo em riste

Reclama meu olhar

Por que as meninas sentem ciúmes de outras meninas?

Por serem tão belas quanto elas?

Soslaios querem te fazer acreditar

Que meus olhos são apenas teus!

 

 

ABISSAL

 

 


Mergulhando nas lentes de um olhar

Desvaneço abrindo as asas do coração

Degradê como as águas do mar

Cristalizar o que é só tristeza, e o que é só alegria?

Inútil distinguir qual a parte que me pertence.

 

 

Desarmado entro no ringue

Sou Cortázar abandonando os socos de boxe

Para agarrar uma caneta e lutar pelo amor e a vida.

Sentir o aflorar do sentido peculiar das universalidades

Dos seres e das coisas simples.

 

 

Mas nunca é tarde para descrever o que sinto agora

Uma imensa satisfação de sentar na varanda do mundo

E enxergar a ludibriante aventura humana de estar constantemente querendo...

Sair a deriva na alcoólica noite discutindo sem razão para entender o ideal alheio, ver as mulheres passando os homens que passam, xingar a política daqueles que jogam a bola das futilidades...

Mudando o discurso falarei como um mecenas insinuando que não se deve cuspir nos pratos, plantarei uma árvore mesmo que os meus negócios dependam dela, acordarei sempre às seis da manhã chamando-a de meu bem...

 

 

domingo, 8 de novembro de 2020

 

ILHA DESERTA

 

 

 

Lançados no mar da vida

Procurando agarrar aquilo que não nos pertence

Conduzido pela corrente da incerteza

Sou Ulisses indo para casa

Desafiando os inventores de Poseidon.

 

 

Fiquei contente em avistar uma ilha

Depois percebi que ela também estava à espera de alguém

Deserto do meu oceano

Quem sou eu, quem é você ilha?

 

 

Talvez tenha exilado Bocage por dizer o que sentia e pensava

Quem sabe Papillon, fugindo na busca de liberdade

Até mesmo Napoleão, querendo retomar de assalto seu império

Quantos homens, quantas ilhas!

 

 

Queria a coragem de Espartacus

Encontrar em cada ilhota um escravo e levar ao continente uma avalanche de soldados.

Queria a coragem dos revolucionários de Serra Maestra

Destruir desertos e plantar sementes...

 [Não venha regar com areia o que você nunca tentou cultivar. Tenha a mesma determinação dos lavradores que semeiam a terra, porque o fruto provera].

Minha sede é a tua procura

Navio cruzando desertos...

 

 

 

MEDITAÇÃO

 

 

 

Eis me aqui...

Calado, por não querer ouvir minha voz...

Exilado de tua presença...

A espera de uma anistia de tantos delitos...

Cometidos pelo imperioso sentido

De querer-te perto!

 

 

 

Devoto ímpio de tua adoração

Do culto de teu corpo êxtase

Clamando cada vez mais pela dor anorgásmica

Clamando nenhum perdão!

 

 

 

Eis me aqui...

Calado, por não querer ouvir minha voz...

Exilado de tua presença...

A espera de uma anistia de tantos delitos...

Cometidos pelo imperioso sentido

De querer-te perto!

 

segunda-feira, 2 de novembro de 2020

 

DIAS DOS MORTOS


 

Observo a aflição em meus e seus olhos

Sem saber porque tanta desilusão...

 

Seguimos como máquinas projetadas para realizar a tarefa de viver nesses dias...

 

O cotidiano é nossa bíblia...

 

Servos no menu somos servidos a mesa aos senhores do capital.

 

A legião de cegos caminha na estrada da lógica silogista que determina todas formas de vida...

 

Nações de idiotas concorrem no ranking

 

Em cada uma delas seres correm para ganhar o dia

Perdendo assim, a cada esquina, a cada trabalho, a cada convívio uma maneira de abocanhar sua ração...

 

Querendo insanamente que o dia, semana, mês e ano acabe para suavizar sua tortura não notam que quanto mais rápido engana seu tempo, menos tempo terá para realmente viver...

 

O que fizeram de nós?

 

Marionetes que respiram a putrefação dos próprios corpos

Em nossas almas o eterno já está garantido ao Deus do apocalipse...

 

Arrebatados pela esperança por tudo que se passa hoje é a prova de garantia da felicidade depois que morrer...


Querendo insanamente que o dia, semana, mês e ano acabe para suavizar sua tortura não notam que quanto mais rápido engana seu tempo, menos tempo terá para realmente viver...

 

 

quarta-feira, 28 de outubro de 2020

 

ABSOLESCÊNCIA  PLANEJADA

 

 

 

Antigamente juntava uma galera e eu pensava que todos estavam procurando sair do mesmo mundinho...

Depois cada qual cresceu neste segredo de viver naquilo que abominamos, mas as mudanças parecem que acabaram por livre espontânea vontade...

E o mundo continuou girando e eu como pedra vivi entre rochedos...

As esperanças de um mundo novo ficaram da mesma maneira que a decepções de outros que um dia repensei...

 

 

Hoje percebi a inusitada descoberta...

Os jovens tornaram-se velhos, com egoísmo velho, com bebedeiras renovadas, a mesquinhez a explorar um gole ou um trago para acumular cada vez mais sua miséria...

Eu me sinto assim... Minha covardia deu-me desespero de falar à verdade que a farsa que sempre escondi em quem sou e nunca revelei...

Sou inocente tal qual culpado de não dizer antes o que sou mediocremente hoje...    

 

 

É hora amigo!

De deixar de procurar intensidade, luzes de um cometa que já passou... Em seguida vem outro...

Beber cicuta em cálices para rir, para poder chorar...

Anestesiar a realidade que não queremos entender...

Estilhaços de uma moral que condena a procura da sanidade de quem não há tem!

 

 

Observe novamente a tua imagem em teu espelho

Toque e perceba que é fria como a absolescência planejada dos vendedores de sonhos do mundo atual, não tem essência só aparência...

 

           

 

 

 

 

CALEIDOSCÓPIO

 

 

 

         Vejo as luzes que alimentam a imaginação e queima a retina

         Dos olhos o mundo que tu achas tão grande com sua pequenez

Que não se deu conta de tantos sentimentos guardados aquela pessoa Ladrão de lençóis.  

        

A dança dos acontecimentos conspirou

Para que o problema financeiro fez flertar

Não mais com o prisma ilusório do amor, mas o prazer das paixões...

 

As ondas sonoras dão cambiantes impressões

Quando tomamos café da manhã misturada com a ressaca dos exageros da noite passada.

Leituras sobre Franz Kafka, leituras sobre a ótica dos aborígines que cultivam os laços sem o germe bárbaro dos góticos.

 

Passei quinze anos pensando como eliminar esse voyeur

Mas sua silhueta visitava todas as noites meus sonhos de adolescente e acordava com as vestes molhadas pelo choque dos átomos provocados pela energia platônica.

 

Serei injusto contigo por não concordar com teu silêncio

Depois de tanto tempo ver tuas pupilas terem aquela réstia de cor e brilho que somente os amantes conseguem mostrar.

 

Às vezes sinto-me como os personagens de não amarás. 

 

 

segunda-feira, 19 de outubro de 2020

 

CARTA PARA QUEM ESTÁ PERTO


 

 

Quero te roubar um beijo

Toda manhã te fazer sorrir...

Seus olhos me verem ao abrir.


 

A noite cansar-te de tantos carinhos

Até nesses desejos rabiscados em versos

Uma pseudo carta  para que está perto

Feita de frases curtas de quem se senti longe...

Feita para romper com a esperança os obstáculos que a vida como aranha tece...

Feita pra te dizer que muitas ou poucas palavras não se vinculam unicamente ao mundo dos significados.

 

 O drama de minhas palavras é não saber que rumo meu amor dará

Ao que está perto fugira de desgosto ou que está longe se sentira perto?

Minhas palavras não querem interrogar nossos sentimentos

Elas tentam expressar onde mora meu e o teu coração...

 

Agora tudo parece distante

Quem está perto, quem está longe

A metafísica desse sentimento confundi o meu querer com o seu sentir

 

 

 

 

 

 

 

GOVERNO PARALELO

 

 

 

 

Transeuntes

Meio-fio separa uma velha pedinte de correligionários

Da situação

Edificando conglomerados produtivos

Especulam

Na Bolsa dos quilos de cocaína

O morro.

 

Policiando

A justiça da cobra-cega

O tráfego

De influências...

 

Políticos

Avaliando o custo-benefício

Piramidal.

 

A bengala coligada

Guia

 A velha democracia

 

O peso da carcaça

Sucumbe a sapiência dos povos

Calcanhar-de-aquiles.