terça-feira, 7 de dezembro de 2010

SEVERAS VIDAS SEVERINAS

Acabo de ler esse “causo” em forma de conto

Feito por um mestre[1] que narra a vida e o desatino

De simples pessoas que vivem no campo

A mercê da sorte e do destino.


Lembrou-me essa triste história

A lida de tantos brasileiros

Que labutam para viver

Sem nenhum amparo e grande desespero.

Quando não é a seca é a chuva

Unindo-se a enxurradas de abandono

Contra a peleja de quem só tem como arma

A sorte, a fé e o seu dito nome...


Lembrou-me essa triste história

Morte e vida Severina

Dizendo em forma de verso esse mestre[2]:

“Iguais em tudo na vida, morremos de morte igual,

mesma morte Severina... vida em morte, Severina”.


A velha Nhola a “margem de uma vida digna” morrendo afogada

Enquanto Severinos correm do sertão da fome inveterada.

“Iguais em tudo na vida, morremos de morte igual,

mesma morte Severina... vida em morte, Severina”.


Agora deixando de ser leitor

Faço parte dessa severa vida clandestina

Interrogo a todos de quem é a culpa

De tanta miséria e tanta morte Severina.

Na foz do Capivari de Goiás

Nas palafitas do rio Capibaribe de Recife

Em todos os cantos do Brasil

A alma da fome é política.


Clemência pediu o pobre Quelemente

A impiedosa condenação do destino

Afogando sua mãe ao acaso

Se fez aquilo que tanto Severino queria

Cansado de tanto procurar viver dignamente

Cansado de nada oferecer e levar dessa vida

Querer uma morte Severina.



[1] Bernardo Elis em seu conto “Nhola dos Anjos e a cheia do rio Corumbá”.

[2] João Cabral de Melo Neto em “Morte e Vida Severina”.

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